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Engenharia

Palestrantes e Alunos Discutem Sobre a Atuação das Mulheres na Área STEM

Publicado: Quarta, 08 de Setembro de 2021, 15h58 | Última atualização em Sexta, 09 de Setembro de 2022, 16h58

No dia 21 de Julho de 2021, os alunos do 1º ano de Engenharia Civil discutiram a respeito da equidade de gênero na profissão, com a participação de duas palestrantes que apresentaram as suas trajetórias de vida e mostraram os desafios enfrentados pelas mulheres que atuam na área STEM (sigla atribuída às áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática). O evento foi organizado pela Profa. Drª. Vassiliki Boulomytis, que é Coordenadora do Curso de Engenharia Civil e ministra a disciplina de Introdução à Engenharia Civil.

A primeira palestra foi ministrada pela Profa. Drª. Taís Arriero Shinma Galbetti, que é Engenheira Ambiental e, atualmente, Coordenadora Adjunta do Curso de Engenharia Ambiental da UEMS.

Figura 1. Profa. Drª. Vassiliki Boulomytis em debate com a Profa. Drª. Taís Galbetti.Figura 1. Profa. Drª. Vassiliki Boulomytis em debate com a Profa. Drª. Taís Galbetti.

Na área STEM, a desigualdade de gênero mundial é crítica. O relatório “Gênero no cenário global de pesquisa” (MOBED, 2017), aponta que a participação feminina ainda continua baixa nessa área, mesmo diante de todos os avanços tecnológicos e ideológicos dos últimos anos. O estudo revela que a situação varia geograficamente, com alguns países tendo proporções relativamente altas de mulheres entre pesquisadores. Destacam-se alguns países sul-americanos, como Bolívia (63 %) e Venezuela (56 %), enquanto outros têm proporções muito inferiores, como Japão (15 %), França, Alemanha e Holanda (25 % na média em cada um deles), mostrando o grande paradoxo entre a qualidade de vida da população, de modo geral, e a qualidade limitada para a vida profissional das mulheres, principalmente as que atuam na área STEM. Nesse estudo, foi levantado que nos artigos científicos das engenharias, os homens tendem a ser os primeiros autores (ou correspondentes) em uma proporção maior do que às mulheres. De acordo com os dados apresentados por Sena (2018), somente 2,6 % as mulheres fazem parte dos titulares da Academia Brasileira de Ciências na área de Engenharias. A presença feminina se destaca na área de biológicas, com 25%, ainda mostrando a discrepância significativa que existe em relação à presença masculina entre os pesquisadores.

A Profa. Drª. Taís Galbetti mostrou em sua palestra que, no Brasil (entre 2006 e 2018), o número de mulheres matriculadas em cursos superiores e o número de publicações cientificas desenvolvidas por mulheres foi maior do que o número de homens. Porém, essa situação muda quando se trata de engenharia, principalmente a engenharia civil, onde o número de mulheres registradas no sistema CONFEA/CREA é de apenas 15% do total. Alguns problemas apontados na profissão são o assédio, a diferença salarial, o preconceito, entre outros. Observa-se que essa diferença vem se reduzindo gradualmente, mostrando um certo avanço na equidade de gênero na engenharia civil, embora ainda muito longe do desejável.

Figura 2. Salários médios em engenharia por gênero no Brasil (2006-2018).  Fonte: FAPESP (2020).Figura 2. Salários médios em engenharia por gênero no Brasil (2006-2018). Fonte: FAPESP (2020).

No relatório de Corbett e Hill (2015), verifica-se que em todo o mundo o total de mulheres graduadas em engenharia civil é de 21 %. Dentre as engenharias, o pior percentual é o da engenharia de computação, com 8 % de mulheres, e o melhor é o de engenharia ambiental, com 45%.

Figura 3. Percentual de mulheres graduadas em engenharias no mundo.  Fonte: Corbett e Hill (2015).Figura 3. Percentual de mulheres graduadas em engenharias no mundo. Fonte: Corbett e Hill (2015).

Na palestra da Profa. Drª. Tais Galbetti, ela relata sobre a importância que as ações de internacionalização nos programas que cursou tiveram em sua vida. A oportunidade de participar de intercâmbios lhe propiciou o conhecimento que hoje é necessário para atuar e sua profissão com nível de excelência. Ela reforça a necessidade de todos os profissionais aprimorarem os seus conhecimentos profissionais continuamente. Por isso, atualmente cursa Engenharia de Computação, para se aprofundar ainda mais na sua área de atuação, em especial na linha de modelagem computacional em hidráulica e saneamento.

A segunda palestrante do evento foi a Profa. Drª. Adriana Marques, que é Engenheira Civil e docente no IFSP Câmpus Itapetininga. O fato de ser mulher, ser negra e ter residido em uma região com significativa vulnerabilidade social nunca lhe impediu de alcançar os seus objetivos.

Figura 4. Profa. Drª. Vassiliki Boulomytis em debate com a Profa. Drª. Adriana Marques.Figura 4. Profa. Drª. Vassiliki Boulomytis em debate com a Profa. Drª. Adriana Marques.

A palestrante da Profa. Drª. Adriana Marques reforçou alguns pontos importantes, referentes aos quais os alunos da engenharia devem se atentar para conseguirem aproveitar cada oportunidade nas suas carreiras. Entre ele estão: a aprendizagem de novos idiomas, o estabelecimento de um bom networking (ou seja, rede de contatos), o envolvimento com tecnologias novas, além da obtenção do máximo de conhecimento em tudo que fizerem em suas vidas. Ela contou um pouco das suas experiências nos países pelos quais já passou e destacou a importância da perseverança, motivação e pró-atividade ao se candidatar para cada vaga que disputou.

As palestras foram muito motivadoras para os alunos do curso, em especial as jovens mulheres, ingressantes no curso de engenharia civil, que participaram do evento. É muito importante envolver todos os alunos nessa discussão, pois as possibilidades de trabalhar na área de STEM nem sempre são acessíveis para as mulheres.

A Drª. Nadiane Smaha Kruk, Engenheira Civil, doutora em Recursos Hídricos e ex-docente do Instituto Tecnológico da Aeronáutica, hoje reside na Alemanha. Como participante do grupo de pesquisa RedeLitoral, ela já palestrou no VI Workshop RedeLitoral, realizado em 2013 no IFSP Câmpus Caraguatatuba. Atualmente, ela pesquisa arduamente sobre a equidade de gênero. É autora do livro “30 horas: Uma proposta revolucionária para equilíbrio vida-trabalho e equidade de gênero”. Ela relata sobre “como o desiquilíbrio profissional e pessoal têm deixado as mulheres para trás”, e destaca que:

... as mulheres são, na maioria dos casos, ainda responsáveis pela maior parte das tarefas domésticas, incluindo o cuidado com os filhos ou pais idosos. Como o trabalho não remunerado aumenta substancialmente com a parentalidade, a maternidade é apontada em diversos países como o principal fator da disparidade de gênero (KRUK, 2021).

O “Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência” (11 de fevereiro) representa um marco da luta pela qual a maioria das mulheres no mundo passa no seu dia-a-dia. Além das jornadas duplas ou triplas, em todo momento as mulheres precisam comprovar que são capazes. Muitos pregam o respeito às mulheres, mas na prática, duvidam do seu potencial, principalmente quando atuam em áreas ainda dominadas pelos homens.

O cenário não é diferente para as meninas quem ainda estudam no ensino médio e sonham em se graduar na área de STEM. A aluna do 3º ano de engenharia civil do IFSP Câmpus Caraguatatuba, Letícia Victoria Rodrigues Barbosa, relatou que quando começou a demonstrar interesse na área de engenharia civil, muitas pessoas lhe questionavam sobre a sua escolha. Muitos parentes e amigos ressaltavam a predominância da matemática no curso, como se uma mulher não fosse capaz de lidar com o desafio. Por isso, foi muito importante ter uma amiga engenheira civil para lhe motivar a não desistir do seu sonho.

O IFSP Câmpus Caraguatatuba agradece imensamente à Profª. Drª Taís Arriero Shinma Galbetti e à Profª. Drª. Adriana Marques pelas palestras ministradas aos alunos ingressantes do curso de Bacharelado de Engenharia civil do ano de 2021, para apresentar os desafios e recompensas que a engenharia civil poderá trazer aos futuros egressos, em especial às mulheres.

 

Autores: Aluno de engenharia civil Lucas Matheus Mariotto Moreira e Profa. Drª. Vassiliki Boulomytis. 

Referências:

CORBETT, C.; HILL, C. Solving the Equation - The Variables for Women’s Success in Engineering and Computing. AAUW, Washington, DC, Vol. 1, Mar, 2015. Disponível em: https://www.aauw.org/app/uploads/2020/03/Solving-the-Equation-report-nsa.pdf. Acesso em: 20 Ago. 2021.

FAPESP. Salário no emprego formal em engenharia para mulheres e homens no Brasil. Pesquisa FAPESP, São Paulo-SP, Vol.1, n. 289, p. 10, Março, 2020. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2020/03/Pesquisa_289.pdf. Acesso em: 22 Ago. 2021.

KRUK, N. S. Como o desequilíbrio entre vida profissional e pessoal tem deixado as mulheres para trás. Catarinas, Mar, 2021. Disponível em: https://catarinas.info/como-o-desequilibrio-entre-vida-profissional-e-pessoal-tem-deixado-as-mulheres-para-tras/. Acesso em 26 Ago. 2021.

MOBED, R. Gender in the Global Research Landscape. Elsevier, 2015. Disponível em: https://www.elsevier.com/__data/assets/pdf_file/0008/265661/ElsevierGenderReport_final_for-web.pdf. Acesso em 26 Ago. 2021.

SENA, V. Elite da pesquisa científica no Brasil é masculina. Capitu, Estadão, 2018. Disponível em: https://arte.estadao.com.br/focas/capitu/materia/elite-da-pesquisa-cientifica-no-brasil-e-masculina. Acesso em: 17 Ago. 2021.

 

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