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Cinedebate

Cinedebate discutiu filme sobre professor que sofre uma falsa denúncia de abuso infantil

Publicado: Sexta, 20 de Outubro de 2017, 00h18 | Última atualização em Terça, 24 de Abril de 2018, 15h17

No dia 06 de outubro de 2017, sexta-feira, a partir das 16h30, ocorreu uma nova sessão de cinedebate no auditório do Câmpus de Caraguatatuba do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), com a exibição – seguida pela posterior discussão – do filme dinamarquês “A Caça” acerca de um professor que recebe uma falsa denúncia de ter abusado sexualmente de uma criança de uma pré-escola. Esta atividade fez parte do rol de ações do programa de extensão “Cinedebate e atividades de educação científica e cultural” coordenado pelo professor Ricardo Roberto Plaza Teixeira e para a sua organização contou com o apoio de seus bolsistas deste programa de extensão (Kauã Estevam Cardoso de Freitas, Rodrigo Henrique Revelete Godoy, Rafael Honório Morais de Oliveira, Rafael do Nascimento Sorensen, Diego e Corrêa Peres de Souza, Juliana Caroline da Silva Sousa, Julia Cristina Barbosa Lucoveis e Ruy Guilherme Farias Santos Bastos), bem como de seus bolsistas de iniciação científica (João Pereira Neto, Rafael Brock Domingos e Izabela Duarte). Este cinedebate contou também com a presença do professor Mauro Ribeiro Chaves, docente de artes do IFSP-Caraguatatuba.

Professor Ricardo Plaza com estudantes que organizaram o cinedebate sobre o filme A Caça

O filme “A Caça” (o título original é “Jagten”) foi produzido em 2012 e dirigido por Thomas Vinterberg. O ator Mads Mikkelsen, com uma atuação excepcional, faz o papel de um professor (“Lucas”) de uma pré-escola (jardim de infância) que sofre a acusação falsa de ter abusado sexualmente de uma das crianças de 5 anos de idade da escolinha (“Klara”) e tem sua vida arrasada pelo pré-julgamento das pessoas da sua comunidade. A mentira da criança surgiu decorrente de uma reação infantil ao seu sentimento de frustração e então se estruturou uma investigação cheia de erros por parte de muitos dos adultos envolvidos, a partir da abordagem inicial feita pela diretora da escola. A falsa premissa de que criança não mente acaba por gerar muitas das situações angustiantes que aparecem ao longo da história narrada.

Mais informações acerca deste filme podem ser obtidas no site do IMDB (no qual “A Caça” tem a considerável nota de pontuação média igual a 8,3, a partir da classificação conferida por mais de 200 mil usuários do site, e está classificado como na posição 105 entre os melhores filmes da história de acordo com o site): <http://www.imdb.com/title/tt2106476/?ref_=fn_al_tt_1>. O trailer legendado deste filme pode ser visto no link: <https://www.youtube.com/watch?v=gwxYwb7NbDI>. Esta película foi indicada para o Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira e ganhou vários prêmios em festivais internacionais de cinema.

Professores Mauro e Ricardo

Basicamente, o filme é uma reflexão profunda sobre como uma mentira pode destruir a vida de uma pessoa inocente. O filme é angustiante e dilacerante, pela empatia que sentimos pelo professor e a tragédia em que se transforma sua vida. O perdão é também um tema trabalhado ao longo do filme. A pedofilia é um crime grave e com prejuízos imensos para as crianças que são as vítimas. Por outro lado, quando a acusação de pedofilia não é verídica, a vida de um cidadão adulto pode ser totalmente destruída pelo estigma do pedófilo e pelo pré-julgamento que frequentemente é feito pela sociedade, que dificilmente respeita a presunção de inocência do réu, uma das bases do direito no mundo civilizado: todos são inocentes até prova em contrário e o ônus da prova sempre compete à acusação. Qualquer pessoa deveria ter garantido o direito a ser tratada socialmente como não criminosa, até que ela seja reconhecida dessa forma pelo sistema judiciário. Isto é o contrário do que ocorre, por exemplo, em muitos programas “policiais” jornalísticos da TV brasileira, o que acaba por produzir verdadeiros “linchamentos” em que a acusação, o julgamento, a condenação e a punição são feitos quase que instantaneamente e sem direito à defesa, tanto linchamentos de fato, provocando a morte violenta e cruel de inocentes, quanto linchamentos sociais, pela internet, onde a proporção de uma calúnia pode tomar proporções imensas, provocando verdadeiros “assassinatos de reputações” e destruindo a vida de cidadãos, muitas vezes a partir de motivos obscuros e interesses materiais bem concretos de terceiros. No Brasil há inclusive uma Associação de Vítimas de Falsas Denúncias de Abuso Sexual (AVFDAS), criada justamente para auxiliar e dar apoio a indivíduos equivocadamente tachados de abusadores que são desumanizados pela falsa denúncia e se tornam párias sociais.

Cena do filme A Caça

O filme “A Caça” lança questões a respeito de temas que envolvem algumas concepções ocidentais e idealizadas acerca das crianças em geral (algumas destas ideias remontam a temas que foram abordados por Sigmund Freud, o criador da psicanálise): Criança não tem malícia? Criança não tem libido? Criança é sempre um inocente e puro anjinho? A última cena acaba produzindo em certo sentido um filme com final aberto. Uma análise interessante pelo ponto de vista psicológico sobre este filme pode ser lida no texto do link: <http://psicologiadospsicologos.blogspot.com.br/2014/08/resenha-do-filme-caca.html>. Finalmente, é importante lembrar que a Dinamarca é um dos países nórdicos com melhores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) no mundo, onde a educação é altamente valorizada, com professores – mesmo de pré-escolas – que são bem remunerados, a partir de um estado que é capitalizado de modo condizente para viabilizar serviços públicos de qualidade. Mesmo assim, numa sociedade tão avançada como esta, a reação de seus cidadãos acaba sendo no sentido do mesmo linchamento primitivo e instintivo quando determinados medos vem à tona.

O debate posterior à exibição do filme também lembrou o caso da Escola Base, uma instituição de ensino particular localizada no município de São Paulo. No mês de março de 1994, o casal de proprietários desta escola foi injustamente acusado pela imprensa de abuso sexual contra alguns de seus alunos de quatro anos: a escola foi obrigada a encerrar suas atividades logo em seguida, a partir da cobertura parcial e sensacionalista por parte da maior parte da TV e da imprensa escrita. As pessoas que foram falsamente acusadas passaram a sofrer de doenças como estresse, cardiopatia e fobias. Até hoje este caso é estudado em faculdades como um exemplo concreto de calúnia, difamação, injúria e danos morais.

As sessões de cinedebates são regularmente organizadas por bolsistas de iniciação científica e de extensão orientados pelo professor Ricardo Plaza, no âmbito do programa de extensão “Cinedebate e atividades de educação científica e cultural”. Seu objetivo principal é realizar reflexões críticas sobre história, ciência e cultura, envolvendo filmes e documentários selecionados com este propósito, bem como ampliar o repertório cultural e cinematográfico por parte dos alunos e do público em geral. Todas as sessões de cinedebates são gratuitas e abertas para quaisquer interessados, tanto da comunidade interna, quanto da comunidade externa ao IFSP; não é necessário fazer inscrição prévia: basta estar presente no auditório no início da exibição do filme. Professores e gestores de escolas públicas que pretendem que alunos de suas escolas participem de atividades deste gênero podem procurar o professor Ricardo Plaza, para juntos organizarem os detalhes.

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