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Cinedebate

Cinedebate discutiu filme sobre a luta por moradia no Brasil

Publicado: Quinta, 05 de Outubro de 2017, 09h20 | Última atualização em Terça, 24 de Abril de 2018, 15h14

No dia 18 de setembro de 2017, segunda-feira, entre 19h00 e 21h30, ocorreu uma nova sessão de cinedebate no auditório do Câmpus de Caraguatatuba do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), com a exibição e discussão do filme nacional “Era o Hotel Cambridge”. Esta atividade fez parte do rol de ações do programa de extensão “Cinedebate e atividades de educação científica e cultural” coordenado pelo professor Ricardo Roberto Plaza Teixeira e para a sua organização contou com o apoio de seus bolsistas deste programa de extensão (Kauã Estevam Cardoso de Freitas, Rodrigo Henrique Revelete Godoy, Julia Cristina Barbosa Lucoveis, Thiffany Souza do Nascimento, Juliana Caroline da Silva Sousa, Rafael Honório Morais de Oliveira, Rafael do Nascimento Sorensen e Diego Corrêa Peres de Souza), bem como de seus bolsistas de iniciação científica (João Pereira Neto e Izabela Duarte). A atividade contou também com a participação das professoras Maria do Carmo Cataldi Muterle e Priscila Cristini dos Santos que organizam o projeto de extensão Touba, de integração cultural com imigrantes africanos (senegaleses) que vivem no litoral norte paulista. Finalmente estiveram presentes também os professores de artes Emanuel Antonio de Rezende Araujo e Carla Terra, bem como da historiadora Teresinha de Oliveira Marciano Costa.

Carla Emanuel Teresinha e Ricardo

O objetivo desta atividade foi trabalhar com um filme que abordasse a realidade de diferentes tipos de imigrantes que vivem no Brasil e – juntamente com brasileiros em condições de dificuldades sociais – lutam pelo direito à moradia. O filme “Era o Hotel Cambridge” foi dirigido por Eliane Caffé (que também dirigiu o excelente filme “Narradores de Javé”) e lançado em 2016 no circuito nacional. Basicamente ele narra a respeito de cidadãos do movimento sem-teto que juntamente como refugiados ocupam um prédio abandonado há muitos anos no centro da cidade de São Paulo, na luta por moradia, de modo a reivindicar dos poderes estabelecidos, políticas públicas que colaborem para garantir o direito à moradia. Este filme foi um dos 25 escolhidos na lista dos filmes pré-selecionados para serem indicados pelo Brasil ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Adicionalmente, ele foi premiado no Festival Internacional de Cinema de San Sebastián, bem como no Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro. O seu trailer está disponível para ser assistido no link: <https://www.youtube.com/watch?v=a5EQUG-RMI8>. 

Bolsistas que organizaram este cinedebate junto com professor Ricardo Plaza

Uma boa reportagem de apresentação sobre “Era o Hotel Cambridge”, pode ser assistida no link: <https://www.youtube.com/watch?v=YrDYRFtuxns>. O filme – que pode ser considerado, em certo sentido, um trabalho de criação coletiva – mistura o real e o ficcional para apresentar o dia a dia e as lutas de quem vive nas ocupações de prédios abandonados nos centros das grandes cidades, uma verdadeira “zona de conflito”: ele conta com dois atores de destaque (José Dumont e Suely Franco), mas grande parte do elenco está representando o papel de si mesmo! Assim, são os próprios moradores, imigrantes e integrantes dos movimentos sociais de luta por moradia que interpretam os personagens desta película.

Foi lembrado no debate que a constituição garante o direito à propriedade, mas que esta tem que também cumprir com a sua função social: assim o proprietário deve estar sensibilizado para com o dever social imposto pela própria Constituição. Deste modo, como foi salientado na discussão, edificações ociosas e abandonadas em áreas urbanas adensadas, com toda uma séria de equipamentos sociais mantidas pelo estado nas proximidades (creches, escolas, postos de saúde, estações de metrô, centros culturais, etc), que se tornam um foco de animais que disseminam doenças e cujos proprietários não pagam os seus impostos em dia e não cumprem com as suas obrigações, pensando somente em lucrar com a especulação imobiliária, não estão atendendo à sua função social. Os presentes também lembraram que movimentos de sem-teto ou de luta por moradia são movimentos sociais importantes e que é fundamental que os poderes estabelecidos reconheçam estes movimentos de luta social como legítimos, sem criminalizá-los, inclusive por serem, muitas vezes, os únicos porta-vozes das reivindicações destes setores sociais excluídos e colocados à margem da sociedade. Quem quiser obter mais informações sobre a “Frente de Luta por Moradia” (FLM), que é retratada ao longo de todo o filme, pode acessar seu site pelo link: <http://www.portalflm.com.br/>. 

Parte do público presente debate o filme exibido

Uma das principais atrizes do filme, Carmen Silva, é também uma das principais lideranças do movimento de luta por moradia em São Paulo: ela é responsável por cerca de 5 mil famílias, na estrutura deste movimento social. Uma interessante entrevista com a atriz Carmen Silva pode ser vista em: <https://www.youtube.com/watch?v=Bjyv3p5IKbc>. A cena do despejo (reintegração de posse) dos cidadãos que ocupavam o prédio do antigo Hotel Cambridge mostra como esta é uma “zona de conflito” real dentro de nosso país: como diz um dos protagonistas do filme, somos todos refugiados no Brasil, sejam os imigrantes estrangeiros, sejam os brasileiros que não têm seus direitos sociais básicos atendidos. Foi lembrado no debate que ver um filme como este, é um modo de sair das capsulas em que vivemos, e conhecer melhor as pessoas que estão nestas ocupações de prédios abandonados, trabalhadores de renda mais baixa que não conseguem financiar uma casa para viverem nos moldes capitalistas usuais (famílias que pagam aluguel, idosos que não conseguiram comprar uma casa, desempregados, etc). O filme – que é importante por humanizar os movimentos sociais – também mostra o papel importante que muitas mulheres desempenham na luta por direitos sociais que estão assegurados na constituição brasileira, mas que ainda não se materializaram para uma parcela expressiva de cidadãos brasileiros de baixa renda: direito à educação pública de qualidade, direito à saúde, direito à moradia, direito ao transporte público digno, etc. Neste sentido, por exemplo, o protagonista “Apolo” (interpretado pelo ator José Dumont) se autodenomina como sendo um “artivista” pelo fato de ser tanto um artista, quanto um ativista engajado socialmente, que pensa que a arte tem que ter uma utilidade também no sentido de ajudar na luta por uma sociedade mais justa.

O livro “Era o Hotel Cambridge – Arquitetura, Cinema e Educação”, da autora Carla Caffé (publicado pela editora do SESC), serviu de inspiração para o filme; diversos trechos esclarecedores deste livro podem ser lidos pelo “google books” no link: <https://books.google.com.br/books/about/Era_o_hotel_Cambridge.html?id=YyQzDwAAQBAJ&printsec=frontcover&source=kp_read_button&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false>.

Ao final do cinedebate, durante as muitas discussões que aconteceram, diversos dos senegaleses presentes cantaram uma bela música de sua terra natal, fazendo com que o público conhecesse um pouco mais de sua rica cultura.

As sessões de cinedebates são regularmente organizadas por bolsistas de iniciação científica e de extensão orientados pelo professor Ricardo Plaza, no âmbito do programa de extensão “Cinedebate e atividades de educação científica e cultural”. Seu objetivo principal é realizar reflexões críticas sobre história, ciência e cultura, envolvendo filmes e documentários selecionados com este propósito, bem como ampliar o repertório cultural e cinematográfico por parte dos alunos e do público em geral. Todas as sessões de cinedebates são gratuitas e abertas para quaisquer interessados, tanto da comunidade interna, quanto da comunidade externa ao IFSP. Professores e gestores de escolas públicas que pretendem que alunos de suas escolas participem de atividades deste gênero podem procurar o professor Ricardo Plaza, para juntos organizarem os detalhes.

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