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Cinedebate

Cinedebate discutiu o filme “O Sal da Terra” com estudantes do Cursinho Popular

Publicado: Quinta, 31 de Agosto de 2017, 08h08 | Última atualização em Terça, 24 de Abril de 2018, 15h13

Na noite de 24 de agosto de 2017, quinta-feira, entre 19h00 e 22h30, ocorreu um cinedebate, no auditório da Escola Estadual Colônia dos Pescadores, com a exibição e discussão do filme “O Sal da Terra”. Este cinedebate teve como público alvo os alunos do Cursinho Popular que é uma ação que o Câmpus de Caraguatatuba do Instituto Federal de São Paulo (IFSP) desenvolve em colaboração com a Escola Colônia dos Pescadores. Os cinedebates fazem parte do rol de ações do programa de extensão “Cinedebate e atividades de educação científica e cultural” coordenado pelo Prof. Dr. Ricardo Roberto Plaza Teixeira (docente do IFSP-Caraguatatuba) e, neste caso, para a sua organização contou com o apoio de três bolsistas orientados pelo professor Ricardo Plaza (João Pereira Neto, Adriana de Andrade e Izabela Duarte). A atividade contou com a participação adicional de Sabrina Fogaça de Almeida, que é bolsista do projeto de extensão “Touba”, coordenado pela Profa. Dra. Maria do Carmo Cataldi Muterle. Finalmente, este cinedebate contou com a participação também de Fabio dos Santos Pereira, professor de redação do Cursinho Popular, um projeto de extensão coordenado pelo Prof. Dr. Renato Aurélio Mainente. Os três projetos de extensão descritos são organizados no âmbito do IFSP-Caraguatatuba e os cinco bolsistas presentes estudam no curso de Licenciatura em Matemática do IFSP-Caraguatatuba.

João, Izabela, Ricardo, Sabrina, Fabio e Adriana

O filme “O Sal da Terra” (título original: “The Salt of the Earth”) foi dirigido por Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado, tendo sido lançado em 2014. Trata-se de um documentário que retrata a vida e a obra do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado que é internacionalmente conhecido pela qualidade artística de seus trabalhos. Mais informações sobre “O Sal da Terra” podem ser obtidas (em inglês) na base de dados do IMDB em: <http://www.imdb.com/title/tt3674140/?ref_=nv_sr_1>. O seu trailer pode ser visto em: <https://www.youtube.com/watch?v=pG3YLpZKomE>. Esta obra foi indicada em 2015 para concorrer ao Oscar de melhor documentário. Uma boa análise crítica de “O Sal da Terra” pode ser encontrada no link: <http://www.posfacio.com.br/2015/04/30/critica-o-sal-da-terra/>.

O filme acompanha as várias fases profissionais de Sebastião Salgado, desde o seu exílio na França durante a ditadura militar que ocorreu no Brasil após o golpe militar de 1964, como indica o subtítulo da obra: “Uma viagem com Sebastião Salgado”. As fotografias em preto e branco, exibidas ao longo do filme são um deleite para os olhos e uma provocação para a consciência social, política e ambiental de cada espectador. Sebastião Salgado é um fotógrafo que concebe a arte como tendo uma função social; seu engajamento político sobre as grandes questões de seu tempo é um fato reconhecido: suas fotos acerca dos militantes e cidadãos do Movimento dos Sem-Terra (MST) são marcantes, por exemplo.

O documentário permite uma imersão do espectador nas grandes questões brasileiras e mundiais das últimas décadas, por meio das fotos de Sebastião Salgado: a corrida pelo ouro em Serra Pelada, a seca no nordeste brasileiro, as ondas de fome na África, a guerra civil na antiga Iugoslávia, a guerra do Golfo, o genocídio em Ruanda, etc. As fotos de seu trabalho “Êxodos” descrevem a história de povos que fugiram da fome, da pobreza e das guerras, por meio de imagens emocionantes. Em um momento mais recente de sua carreira (a sua obra-prima “Gênesis”), as suas fotos voltaram-se da sociedade para a natureza e o meio-ambiente. Fruto disto é o estabelecimento do “Instituto Terra” que está reflorestando trechos de Mata Atlântica desmatados em uma propriedade de seus pais no norte de Minas Gerais.

Um trecho do filme define a visão acerca da humanidade de Sebastião Salgado quando ele mesmo afirma: “Somos um animal muito feroz. Os humanos são um animal terrível. Nossa história de guerras é uma história sem fim, louca.” Em outro trecho, o fotógrafo afirma: “A força de um retrato é que numa fração de segundo se compreende a vida de uma pessoa”. Durante o debate foi lembrado que em certo sentido é revelador o fato de que este seja um filme estrangeiro (narrado majoritariamente em francês) sobre este grande fotógrafo brasileiro. Também foi lembrado que o crescimento da intolerância no Brasil revelado pelo aumento de manifestações racistas, machistas, homofóbicas e fascistas na internet, está muito relacionado a uma frase dita por Sebastião Salgado no filme: “O ódio é contagioso”. Foi citado, a este respeito, durante o debate, o caso da recente eleição da Miss Brasil na cidade de Ilhabela: em um país no qual aproximadamente 54% da população é afrodescendente segundo dados do IBGE, apenas pela terceira vez na história foi eleita uma Miss Brasil negra, a bela piauiense Monalysa Alcântara. Entretanto pela internet proliferaram comentários racistas de modo evidente ou em alguns casos de maneira mais sutil e encobertada, por exemplo, quando alguém escreveu em uma rede social que ela não merecia ser eleita Miss Brasil, pois ela tinha “cara de empregadinha”; é possível se informar mais sobre isto no artigo intitulado “‘Tem cara de empregadinha; devia morrer’. Nova miss Brasil reage ao racismo”: <https://www.pragmatismopolitico.com.br/2017/08/nova-miss-brasil-e-alvo-de-racismo-tem-cara-de-empregadinha-devia-morrer.html>.

O universitário João Pereira Neto lembrou também a história do rei Midas, um personagem mitológico da antiguidade grega que reflete sobre a ambição humana: ele adquiriu a propriedade de que todo objeto em que encostava se transformava em ouro, mas ao final não tinha mais alimentos para comer ou água para beber, pois estes também se transformavam em ouro, em uma metáfora sobre as consequências terríveis dos excessos produzidos pela ganância do ser humano. O filme “O Sal da Terra” trata das nossas ambições e da morte que elas provocam. Assim, o Sal da Terra é o próprio homem, assim como a terra que foi arada com sal, torna o solo infértil para muitas plantas! As fotografias de Sebastião Salgado, em preto e branco, nos trazem a humanidade que muitos negamos existir e revelam as semelhanças entre a história de destruição do Homo sapiens e a narrativa do Rei Midas.

O Cursinho Popular de Caraguatatuba funciona em todos os dias úteis no período noturno no auditório da Escola Colônia dos Pescadores e atende gratuitamente estudantes ou ex-estudantes de escolas públicas do litoral norte paulista que pretendem se preparar para as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) ou para outros exames de seleção para ingresso no ensino superior. Os professores que lecionam as aulas do Cursinho Popular são estudantes de cursos de graduação do IFSP-Caraguatatuba que recebem uma bolsa mensal financiada pela Pró-Reitoria de Extensão (PRX) do IFSP. Este ano de 2017 é o segundo ano em que o IFSP-Caraguatatuba está promovendo este Cursinho Popular com verbas da PRX e seu objetivo é ampliar as oportunidades de acesso ao ensino superior para jovens oriundos das classes trabalhadores que estudam ou estudaram em escolas públicas.

Estudantes do Cursinho Popular participam do debate sobre o filme “O Sal da Terra”

As sessões de cinedebates são regularmente organizadas por bolsistas orientados no IFSP-Caraguatatuba pelo professor Ricardo Plaza, no âmbito do programa de extensão “Cinedebate e atividades de educação científica e cultural”, uma ação patrocinada com recursos da Pró-reitoria de Extensão (PRX) do IFSP. Seu objetivo principal é realizar reflexões críticas sobre história, ciência e cultura, envolvendo filmes e documentários selecionados com este propósito, bem como ampliar o repertório cultural e cinematográfico por parte dos alunos e do público em geral. Todas as sessões de cinedebates são gratuitas e abertas para quaisquer interessados, tanto da comunidade interna, quanto da comunidade externa ao IFSP. As datas e os horários das sessões que ocorrem no auditório do IFSP-Caraguatatuba são sempre previamente comunicados a todos os interessados por informes publicados no site do próprio IFSP-Caraguatatuba. Professores e gestores de escolas públicas que pretendem que alunos de suas escolas participem de atividades deste gênero podem procurar o professor Ricardo Plaza, para juntos organizarem os detalhes.

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