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Cinedebate

Cinedebate abordou o filme “O Vento será sua Herança”

Publicado: Quarta, 27 de Setembro de 2017, 09h09 | Última atualização em Terça, 24 de Abril de 2018, 15h13

No dia 23 de setembro de 2017, sábado, pela manhã entre 09h00 e 12h00, ocorreu uma nova sessão de cinedebate no auditório do Câmpus de Caraguatatuba do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), com a exibição – seguida pela posterior discussão – do filme “O Vento será sua Herança”. Esta atividade fez parte do rol de ações do programa de extensão “Cinedebate e atividades de educação científica e cultural” coordenado pelo professor Ricardo Roberto Plaza Teixeira e para a sua organização contou com o apoio de bolsistas deste programa de extensão (Kauã Estevam Cardoso de Freitas, Rodrigo Henrique Revelete Godoy, Rafael Honório Morais de Oliveira, Rafael do Nascimento Sorensen e Diego Corrêa Peres de Souza), bem como de bolsistas de iniciação científica (João Pereira Neto e Izabela Duarte), todos eles orientados pelo professor Ricardo Plaza que também é o atual coordenador do curso de Licenciatura em Física do IFSP-Caraguatatuba. Este cinedebate contou também com a participação da Profa. Dra. Samara Salamene que é graduada em Ciências Biológicas e leciona no curso técnico em meio ambiente do IFSP-Caraguatatuba.

Professor Ricardo Plaza com alguns de seus bolsistas após este cinedebate

O filme “O Vento será sua Herança” (o título original em inglês é “Inherit the wind”) foi dirigido por Daniel Petrie, lançado em 1999 e é baseado em uma história real que ocorreu numa cidade do estado norte-americano do Tennessee, em 1925. Ele conta com as interpretações dos grandes atores Jack Lemmon e George C. Scott, nos papéis centrais de um advogado e de um promotor que atuam no caso de um jovem professor de biologia (chamado John Thomas Scopes) que é julgado pelo fato de ter ensinado a teoria da evolução de Darwin nas aulas da disciplina de ciências o que era proibido por uma lei local.

Um trecho interessante desta película – que é um remake de um filme anterior de 1960 que por sua vez se baseia numa peça de teatro que tratava do famoso “julgamento do macaco de Scopes” – pode ser assistido em: <https://www.youtube.com/watch?v=AmHCvYjot90>. Diversas informações sobre este filme (em inglês) podem ser obtidas no site do IMDB no link: <http://www.imdb.com/title/tt0196632/?ref_=nv_sr_1>.

Professores Samara e Ricardo

O professor de Biologia retratado no filme foi preso porque estava ensinando evolucionismo aos alunos, infringindo uma lei local que proibia os professores de ensinar, em escolas públicas, qualquer teoria que fosse contrária às interpretações bíblicas: este caso ganhou dimensão nacional nos Estados Unidos e atraiu a atenção de muitos jornalistas e do público de grandes cidades dos EUA. O juiz não foi imparcial, durante o julgamento, pois o advogado de defesa foi proibido de levar especialistas em zoologia, arqueologia, geologia e antropologia para deporem de modo a explicar, aos presentes, as concepções científicas para a compreensão da natureza. O filme exibido é um importante alerta contra tentativas obscurantistas de tentar amordaçar professores nas suas práticas educacionais.

A população da maioria da cidade ficou contra o professor e contra seu advogado que veio do norte dos EUA para o trabalho de defesa, pois os moradores possuíam uma cultura muito religiosa baseada na tradição judaico-cristã, sobretudo do Velho Testamento, que estava sendo questionada por evolucionistas que eram considerados pagãos e ateus. Um dos argumentos de defesa usado pelo advogado ocorre quando ele pergunta se tudo na Bíblia tem de ser interpretado ao “pé-da-letra” e literalmente, o que permite refletir sobre posturas fundamentalistas religiosas que podem acabar levando à intolerância de cunho religioso contra pessoas que têm uma religião que é minoritária ou mesmo contra cidadãos que não têm religião ou que são ateus.

Uma cena em que o advogado segura em uma mão o livro “A origem das espécies” de Charles Darwin e na outra mão a Bíblia, comparando os “pesos” das duas obras, permitiu pensar sobre como muitas vezes foram conflituosas ao longo da história as relações entre ciência e religião, como no caso, citado no filme, do físico Galileu Galilei que também foi perseguido e preso há 400 anos por ordem da Igreja pelo fato de ousar defender a ideia de que a Terra orbitava em torno do Sol, o que era visto como sendo contrário à interpretação vigente das Escrituras. Foi ressaltado no debate que ciência e religião têm origens comuns (até o século XVIII todas as universidades eram vinculadas à Igreja), mas hoje constituem duas formas diferentes de pensar o mundo que devem ser respeitadas com tolerância e conviver de modo civilizado.

No estado laico em que vivemos a religião deveria estar separada do estado. Portanto, como foi destacado no debate, assim como não faz sentido cientistas e professores de disciplinas científicas interferiram no que sacerdotes pregam em cerimônias religiosas, também não faz sentido grupos religiosos tentarem interferir no que é ensinado em aulas de disciplinas científicas por professores formados nestas áreas. No seguinte trecho curto de um depoimento do importante cientista e divulgador da ciência norte-americano Neil deGrasse Tyson, se discute a respeito das consequências inquietantes de incluir o criacionismo de cunho religioso em aulas de disciplinas científicas: <https://www.youtube.com/watch?v=af_QL9NVms0>. A este respeito, uma cena do filme que ressalta a importância da educação pública ser laica ocorre quando um dos protagonistas lembra que estudantes da cidade, onde ocorreu o julgamento, não estavam sendo aceitos em grandes universidades do país em decorrência da lei que proibia o ensino da teoria da evolução nas escolas públicas da educação básica e tornava ilegal “o ensino de qualquer teoria que negue a história da criação divina do homem como é explicado na Bíblia”. A este respeito, um vídeo de animação sucinto e bastante didático acerca da teoria da evolução de Darwin, produzido pelo cientista Carl Sagan para a série Cosmos nos anos 1980 (“Evolução da vida na Terra, de moléculas aos humanos”) pode ser assistido em: <https://www.youtube.com/watch?v=ioXDKmhV7Zw>.

Este filme também mostra a relevância da liberdade de pensamento e da livre circulação das ideias, direitos que hoje estão previstos na Declaração Universal dos Direitos Humanos. O filme “O Vento será sua Herança” está disponível para ser assistido fácil e gratuitamente em diversos sites de armazenamento de vídeos que existem na internet, tal como o YouTube.

As sessões de cinedebates são regularmente organizadas por bolsistas de iniciação científica e de extensão orientados pelo professor Ricardo Plaza, no âmbito do programa de extensão “Cinedebate e atividades de educação científica e cultural”. Seu objetivo principal é realizar reflexões críticas sobre história, ciência e cultura, envolvendo filmes e documentários selecionados com este propósito, bem como ampliar o repertório cultural e cinematográfico por parte dos alunos e do público em geral. Todas as sessões de cinedebates são gratuitas e abertas para quaisquer interessados, tanto da comunidade interna, quanto da comunidade externa ao IFSP; não é necessário fazer inscrição prévia: basta estar presente no auditório no início da exibição do filme. Docentes e gestores de escolas públicas que pretendem que alunos de suas escolas participem de atividades deste gênero podem procurar o professor Ricardo Plaza, para juntos organizarem os detalhes.

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